sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ironman Brasil e vaga no Havaí

O mantra do homem de ferro

Dois mil triatletas disputam Ironman Brasil em Florianópolis, sonhando com vaga no Mundial do Havaí
É preciso cruzar a linha de chegada para entender. Esta frase é repetida há 32 anos na mais famosa prova de triatlo do mundo, o Ironman do Havaí. Isso é quase um mantra para a comunidade deste esporte. É a resposta pronta para quando perguntam a um triatleta o porquê de resolver nadar 3,8km no mar, pedalar 180km e correr, após tudo isso, uma maratona (42,2km).
Lá, na ilha de Kona, a disputa do Mundial acontece sempre no sábado, com a primeira lua cheia de outubro. Aqui, em solo verde-amarelo, em Florianópolis, o Ironman Brasil é a única seletiva sul-americana para aqueles que sonham em viver a experiência no mágico arquipélago americano. E o dia de se cruzar “a linha brasileira” para dois mil triatletas será no próximo domingo, na 11ª edição da competição. Para ter noção do sucesso do evento, as inscrições para 2011 acabaram dois dias após a prova de 2010. Para 2012? Bem, se você pensa em estar lá, pode se preparar porque a expectativa é que as vagas, limitadas a dois mil atletas, acabem em um dia.
Maior que o carnaval
Além de atrair milhares de triatletas, entre homens e mulheres, de 18 a 75 anos, provenientes de 34 países, o Ironman Brasil promove um impacto econômico em Florianópolis, podendo ser comparado ao de alta temporada na cidade. A prova representa, no turismo da cidade, uma ocupação maior que a do feriado de carnaval, com um faturamento de R$ 10 milhões. Por ser reconhecido internacionalmente e com números que impressionam o mercado esportivo brasileiro, mais de 50 organizações buscam se associar às marcas do evento, que chama a atenção de 25 mil espectadores nas ruas da capital catarinense.

Muitos leigos e novatos confundem o nome da prova com o esporte, o que é até justo, pois o triatlo cresceu a partir do sucesso do Ironman. Para acabar de vez com a dúvida, a simplicidade: todo Ironman é um triatlo, mas nem todo triatlo é um Ironman.

A prova olímpica, por exemplo, tem distâncias de 1,5km de natação, 40km de ciclismo e 10km de corrida e faz parte dos Jogos Olímpicos, desde de Sydney-2000. O triatlo é considerado o esporte que, em menor tempo de existência (foi criado na década de 70, na Califórnia), atingiu o status olímpico. Para tanto, mostrou ao COI que já era praticado em vários países, além do número de adeptos crescer a cada ano. A estreia na Austrália foi marcante, milhares de pessoas espalhadas pelas ruas da cidade-sede acompanharam o desempenho dos atletas.

Bem, como pode se ver, o esporte “pegou”. Hoje já são 26 seletivas para o Mundial no Havaí, espalhadas pelo mundo. No Brasil, são oferecidas 50 vagas aos atletas amadores interessados. Amadores? Sim. Em
sua maioria, os participantes são pessoas comuns, que trabalham o dia todo, treinam as três modalidades e ainda têm coragem de largar nas areias de Jurerê Internacional, de onde partem os dois mil atletas para o início do longo dia. Entre eles, apenas 30 competidores estão na categoria profissional. A média de tempo de chegada dos amadores fica entre 11 e 12 horas, mas o limite é de 17, ou seja, se a largada é às 7h, o fim da prova é... meia-noite, e num frio que até os atletas europeus sentem bastante.

Para este ano, a prova contará com a volta do maior nome do triatlo nacional, a niteroiense Fernanda Keller, seis vezes terceira colocada no Mundial do Havaí. Fernanda já foi bicampeã em Florianópolis e, aos 47 anos, volta bem treinada, como sempre, após um ano de afastamento do esporte. Entre os homens, Santiago Ascenço, de Goiânia, é a grande esperança brasileira, pois ano passado conquistou a terceira colocação após uma prova bem constante.

E entre os amadores, quem são os favoritos? Isto é o que menos importa para esta categoria. Para a maior parte da massa de anônimos, o que vale é participar. O casal Virgílio e Solange Andrade é um bom
exemplo.
Exemplos de vida
Ele, tem 64 anos, fez seu primeiro triatlo em 1985 e, de lá pra cá, disputou “simplesmente” sete provas de Ironman no Havaí e quatro no Brasil. É um dos melhores triatletas masters do país e ressalta seu amor pelo esporte:

— Participei de várias maratonas antes de entrar para o triatlo. Fui remador durante 15 anos e joguei futebol de areia desde os 10 anos de idade. Neste domingo, farei meu 13 Ironman. O esporte sempre será minha paixão.

Solange, de 54 anos, tem uma história curiosa no triatlo. Neste domingo, ela fará sua estreia no Ironman Brasil. Entretanto, em 1987, ela competiu no Mundial do Havaí, ao lado do marido.

— Passei por alguns problemas de saúde nos últimos anos, mas resolvi dar a volta por cima e vou completar essa prova este ano e dedicá-la à minha mãe, que faleceu no ano passado. Sempre gostei
de treinar, mas, para fazer o Ironman, o treino é mais sério, e eu quero completar, pois meus filhos, hoje crescidos, estarão lá para ver — diz ela.

Além da paixão pelo esporte, os dois concordam em outra coisa. Sempre ouvem a eterna pergunta sobre a razão de fazer uma prova tão longa e dolorosa. Resposta? Está lá em cima, na primeira linha.
Marcos Dantas é colunista do Pulso e disputou o Ironman Brasil do ano passado.

Fonte:  Pulso

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