Encontrei esse artigo interessante sobre as federações internacionais de karatê e as olimpíadas.
Dom - 07 Nov
Separados por apenas um mês, os mundiais da Federação Mundial de Karate (WKF) e da Federação Internacional de Karate Tradicional (ITKF) evidenciam diferenças ou semelhanças? O que eles têm em comum? A bem da verdade o karate mundial já foi unido sob uma sigla, a WUKO - União das Organizações Mundiais de Karate.
Após perder o cargo de Vice-Presidente da então WUKO logo após o 2º Campeonato Mundial de Karate, realizado em Paris/1972, o japonês radicado nos EUA Hidetaka Nishiyama resolveu abandonar esta Federação para no ano seguinte fundar a sua própria, a qual denominou Federação Internacional de Karate Amador (IAKF). Assim, duas organizações dividiram a administração do karate mundial: WUKO e IAKF.
A então WUKO continuou promovendo seus campeonatos mundiais a cada dois anos, enquanto que a IAKF realizou o seu primeiro em 1975 na cidade de Los Angeles, EUA, sob o nome de 1ª Copa do Mundo de Karate. Ao longo das décadas de 70 e 80 estas entidades percorreram o mundo com a realização de seus eventos. Paralelamente a esta "guerra geopolítica", também se estabeleceu uma acirrada disputa pelo reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional (COI) para que o karate, assim como o judo, pudesse integrar o Programa Olímpico.
Percebendo a disputa mercadológica estabelecida por tal disputa entre essas entidades, o COI exigiu que as duas entidades se fundissem. Somente em 1985 houve uma aproximação capaz de apagar as históricas cicatrizes. Foi realizada na Hungria uma competição promovida pelo COI com regulamento unificado a fim de estabelecer diretrizes comuns entre as entidades para que o karate pudesse finalmente se submeter aos critérios de candidatura. Lamentavelmente a fusão não foi possível e o COI reconheceu a WUKO em caráter provisório, o que provocou revolta na IAKF, que foi dissolvida e refundada sob a égide de ITKF.
Insolitamente, o beneficiado com esta tentativa mal sucedida de união do karate mundial foi o tae kwon do, pois em 1988 realizaram-se em Seul, Coréia do Sul, os XXIV Jogos Olímpicos, evento no qual estreiou como modalidade de demonstração, segundo critérios da época. Somente em 2000 o tae kwon do seria efetivado para contar medalhas no quadro geral.
Percebendo grande interesse no numeroso público karateka mundial, o COI novamente estabeleceu o diálogo entre a WUKO e a ITKF para que novamente buscassem a união em prol da modalidade. Foi proposto pelo COI que as duas entidades se fundissem sob a égide de Federação Mundial de Karate (WKF), o que parecia finalmente vir a acontecer. Como ao longo de quase vinte e cinco anos o regulamento da então WUKO vinha migrando do sistema Shobu Ippon (luta por um ponto, ou dois meios pontos) para o sistema Shobu Sanbon (luta por três pontos, ou seis meios pontos, ou combinação), a ITKF encontrou aí o argumento que precisava para mascarar a sua ambição de liderar a nova WKF. Como nenhuma das partes foi capaz de ceder, o COI reconheceu o karate em caráter definitivo em 1993, ano de fundação da WKF, que aglutinou a WUKO.
A partir daí diversas mudanças de regras foram diferenciando cada vez mais o modelo de disputas dessas entidades. Novas cisões foram ocorrendo ao longo do tempo e a ITKF sofreu um duro golpe com o falecimento de seu Presidente Hidetaka Nishiyama, que pouco antes de morrer enviou uma carta ao COI pedindo que reconsiderassem o karate como modalidade olímpica.
O karate brasileiro, como não poderia deixar de ser, também foi vitimado por essas divisões internacionais, o que de certo modo acabou por fomentar o esfacelamento da organização do karate nacional. Como os professores japoneses que haviam difundido o karate no Brasil possuíam maior afinidade com a então IAKF, o karate brasileiro se afastou da WUKO em 1973, um ano após conquistar o Campeonato Mundial com Luís Tasuke Watanabe, o karate brasileiro permaneceu afastado do circuito mundial por muitos anos.
Somente em 1985 quando o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), por determinação do COI, exigiu que o karate brasileiro não permanecesse com dupla filiação mundial, fundamental critério para que o karate conquistasse o reconhecimento pelo COI, foi que as fissuras entre as lideranças políticas da época alcançassem proporções antagônicas que até hoje perduram. Até então, para as novas gerações, a única entidade mundial conhecida era a IAKF, fato que foi desvelado pelo karateka Enio Vezzuli, que durante seu curso de instrutores (Kenshusei) realizado na Nihon Karate Kyokai (NKK) no Japão, obteve toda a verdade dos fatos o que viria a desagradar profundamente as lideranças do Departamento de Karate da Confederação Brasileira de Pugilismo (CBP), entidade a qual o karate brasileiro era vinculado uma vez que ainda não tinha a sua própria entidade nacional de administração.
Tais revelações e exigência do COB promoveram a primeira grande cisão do karate brasileiro. Aproveitando-se do ocorrido em 1985 com a IAKF, nascia no Rio de Janeiro a Federação do Estado do Rio de Janeiro de Karate Tradicional (FERJKT). Embora a legislação da época não permitisse a coexistência de duas entidades destinadas a um mesmo fim, numa inteligente manobra jurídica foi estabelecido que as "diferenças" entre o "karate" e o "karate tradicional" paralelamente eram as mesmas entre futebol de campo e futebol de salão, ou seja, desportos diversos.
Os remanescentes nas federações estaduais se organizaram e conseguiram fundar em 11/09/1987 a Confederação Brasileira de Karate (CBK). Servindo-se da jurisprudência ocorrida no Rio de Janeiro, um ano após foi fundada a Confederação Brasileira de Karate Tradicional (CBKT).
Não obstante isso para o enfraquecimento do karate do Brasil, em 1992 era promulgada a Lei Zico, que permitia a livre criação de ligas, federações e confederações de uma mesma modalidade. Como o karate não era modalidade olímpica e não recebia repasses do COB, lideranças do karate brasileiro sentiram-se estimulados ao "estouro da boiada" e criaram as suas próprias. Em 1998 a Lei Pelé viria para corroborar a Lei Zico, o que promoveu maior fragmentação técnico-política do karate no Brasil.
Entre outras "marcas", surgiria o "karate interestilos", que logo se despedaçou em três federações mundiais. A maior delas até já superou a ITKF em número de países membros. Enquanto isso, a WKF permaneceu próxima ao COI, conseguiu introduzir o karate nos Jogos Continentais e Mundiais, agregou a imensa maioria de karatekas do mundo inteiro por intermédio de seus 174 países membros. Para se ter uma ideia da credibilidade da WKF, desde a década de 70 o governo japonês apenas a reconhece e sua seleção japonesa de karate só participa do circuito de competições promovidos pela WKF.
A criação da Premiere Leage da WKF fará com que haja uma profissionalização para lutadores de karate e deve ser o golpe final em instituições de auto-promoção.
Como o Brasil em poucos anos será sede dos Jogos Olímpicos, por intermédio de uma faxina financeira o karate brasileiro poderá vir a se unir, ao menos para lutar pelos 15% de verbas do Programa Bolsa Atleta Federal que serão destinadas somente aos esportes integrantes dos Jogos Pan-americanos. Aos esportes que integram os Jogos Olímpicos de Verão e Inverno, restarão "míseros" 85% das verbas.
WKF x ITKF Mundial WKF (apenas Senior) Mundial ITKF |
Número de Atletas 1200 800 |
Países 88 30 |
Seleção japonesa Sim Não |
Reconhecimento pelo Japão Sim Não |
Transmissão TV Sim Não |
Uso de vídeo p/ arbitragem Sim Não |
Fonte: http://www.karatedasmeninas.com/ex-wuko-wkf-se-itkf-na-luta-pela-hegemonia-do-karate.html
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