domingo, 21 de março de 2010

Violência

 Hoje lembrei de uma música chamada "Minha alma(a paz que eu não quero)"da banda O Rappa , a letra lança uma dúvida: "quem é o prisioneiro?" Na atual onda de violência e insegurança, muitas pessoas tentam se proteger na segurança de condomínios fechados, cães ferozes e grades, o lar se transforma em prisão de segurança máxima com direito a cães, grades, câmeras e guardas. Afinal de contas, quem está livre e quem é o prisioneiro? O cidadão trancafiado dentro de sua casa? E pior, devido ao individualismo, só pensamos na violência atinge alguém próximo de nós, ou nós, ou ainda quando passa um caso alarmante nos programas de tv. Pensei na música, refleti sobre tudo isso e acabei por me lembrar de outra música chamada "Tumulto" também do Rappa, a coincidência foi tanta que quando entrei na internet para ver o jornal a Tribuna do Norte, achei um artigo relacionando a violência e a busca frenética por segurança nos condomínios verticais (edifício) e horizontais (casas).

             A seguir, as letras das duas músicas, links dos dois clipes do Rappa , e a matéria da Tribuna. Leiam, assistam  e reflitam sobre a violência...

 
Minha alma (a paz que eu não quero)- O Rappa
 Assista o clipehttp://www.youtube.com/watch?v=vF1Ad3hrdzY&feature=fvsr


A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!
(Sêgo! Sêgo! Sêgo! Sêgo!)
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!
(Medo! Medo! Medo! Medo!)
As vezes eu falo com a vida,
As vezes é ela quem diz:
"Qual a paz que eu não quero conservar,
Prá tentar ser feliz?"
As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo, domingo!
Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido...
É pela paz que eu não quero seguir admitindo
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir admitindo

Tumulto - O Rappa/ Assista o clipe http://www.youtube.com/watch?v=jsAJTCKrCMQ&feature=channel


Eu sempre penso duas vezes

Antes de entrar
Mas tem certos momentos
Que atingem o inconsciente popular
Inconsciente popular
Tumulto, corra que o tumulto está formado
Vem cá, vem vê, vem cá, vem vê-ê
Que dentro do tumulto pode estar você
Panela batendo, toca fogo no pneu, põe barricada
Velhos, senhoras e crianças
A mulecada pula, debocha e dá risada
Parece brincadeira, mas não é
A comunidade não aguenta tanto tempo sem água
Tudo bem ele era o bicho
Mas saiu daqui inteiro
Até chegar no hospital
Levou três tiros no peito
E a galera daqui
Fez igual fizeram em Vigário Geral
Todo mundo pra rua aumentar o som (2x)
Pra causar algum tipo de repercussão (2x)
Quando o monstro vem chegando
Chegando, chegando, chegando
E ameaçando invadir o seu lar
(Parado ae no memo lugar se não se corrê eu atiro)


Tribuna do Norte
Castelos de prosperidade e medo

Publicação: 21 de Março de 2010 às 00:

Guaritas, muros altos e cercas. A fortaleza parece impenetrável, mas não estamos falando de um castelo medieval e sim de uma inexpugnável fortaleza moderna, construída para garantir a paz e a tranqüilidade de seus habitantes em tempos de “violência e insegurança”. Não é de hoje que a preocupação com a segurança incide diretamente sobre a forma como os prédios são pensados e construídos para garantir aos seus proprietários a dita sensação de paz e tranqüilidade. Se antes a segurança era considerada adicional, hoje é um quesito incluído nos próprios projetos arquitetônicos e representa a maior parte dos custos de um condomínio.

Alex Régis

A arquitetura do medo isolaO presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RN), Luciano Barros, afirma que a preocupação com a segurança de um condomínio, seja de casas ou de apartamentos, começa na elaboração do projeto. “Enquanto uma equipe trabalha na elaboração de todo o projeto, há pessoas para pensar unicamente o controle de acesso, ou seja, a portaria. Também acontece, dependendo do tamanho do empreendimento, de se contratar uma empresa de segurança para dar consultoria no projeto, que já nasce comprometido com essa preocupação”, afirma. Contudo, o aspecto de “castelo medieval”, com muros imensos e intransponíveis, não é o mais desejado. O bom e eficaz muro é cada vez mais invisível.

“O arquiteto precisa conseguir harmonizar a construção com todos esses pré-requisitos de segurança”, explica Luciano Barros. Dessa forma, são cada vez mais comuns os jardins na frente do condomínio ou residência, o que se chama de “gentileza urbana”. Em outras palavras, um artifício para atenuar o aspecto de “local fechado” de determinadas fachadas. “Com um jardim na frente, dá pra esquecer que atrás há um muro imenso”, aponta. E acrescenta: “Sem isso, o local fica parecendo um presídio, com todas as portas e seguranças”.

O termo “atenuar o aspecto de local fechado” é bastante apropriado. Não dá para se enganar, o objetivo é impedir a entrada de estranhos, vigiar, revistar e punir. Uma evidência é o crescimento do mercado de segurança privada em Natal. De acordo com o representante do Sindicato de Empresas de Segurança Privada (Sinesp/RN), Ricardo Roland, embora não seja possível medir com exatidão o aumento no setor, por conta da proliferação de empresas clandestinas, essa porcentagem deve ultrapassar a marca dos 10%. “Com certeza, dá para perceber que o mercado de segurança privada está em ascenção em Natal. Cada vez mais o natalense procura as empresas especializadas para se proteger contra a violência”, afirma. Os aparatos, segundo Roland, não mudam. São câmeras de monitoramento, guardas armados, controles de acesso cada vez mais rigorosos. No afã de se proteger, o natalense tem inclusive aberto mão da privacidade. A nova onda é de circuitos de TV para monitoramento, sob o controle inclusive dos próprios condôminos. Funciona da seguinte maneira: dentro de cada casa, há um monitor com tudo o que as câmeras captam em todo o condomínio. Como se fosse um imenso Big Brother, todos podem ver o que todos fazem nas áreas comuns.

Um dos locais que podem aderir à novidade é o Condomínio Green Villagge, localizado na avenida Jaguarari e considerado um dos mais seguros da cidade. De acordo com o empresário João Aurimar Morais, presidente da Comissão de Segurança do Green Villagge, a proposta será colocada em votação em breve. “Vamos perder a privacidade, mas vale a pena por conta da segurança”, afirma. João Aurimar conta que cerca de 80% do que é gasto mensalmente no condomínio é direcionado à segurança, o que significa um gasto mensal de cerca de R$ 300 mil. “Não acho que Natal seja tão insegura assim, mas para se proteger é preciso prevenir”, diz.

A fala de João Aurimar levanta um ponto importante da questão. Natal é uma cidade de médio porte que está muito longe de outras capitais nordestinas e do Brasil em termos de insegurança. Pensando nisso, a rigor, do que as pessoas estão se protegendo?

Percepção do povo é que Natal é muito violenta

A distância entre Natal, em termos de índices de violência, e outras cidades como Recife e Fortaleza, para ficar apenas no Nordeste, ainda é bastante acentuada. Um parâmetro para se analisar é o critério utilizado pelo Governo Federal para implantar um de seus principais programas contra a violência, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), que articula políticas de segurança com ações sociais. O Rio Grande do Norte não figurou como prioridade justamente por não ter uma situação tão preocupante.

Mesmo assim, a percepção do povo natalense é de que a violência na cidade está cada vez mais alarmante, vide o quesito “segurança” figurar como uma das maiores reclamações contra o atual Governo do Estado. Para o professor Edmílson Lopes, o medo da população não é completamente destituído de sentido. “Natal tem um crescimento acentuado dos níveis de violência, principalmente nas periferias. Se você levar em consideração onde se concentram os homicídios, vai ver que é preocupante”, encerra.

População se isola por classe e categoria

Para o professor de Ciências Sociais, Edmílson Lopes, os fatores que explicam a proliferação de critérios rígidos de segurança vão além das estatísticas de homicídios e roubos da capital potiguar. A violência exerce influência capital, obviamente, mas há também outras características, como a tendência de isolamento de classes e categorias em seus “paraísos particulares”. A incapacidade do Estado em manter a “paz social” é outro ponto abordado pelo professor.

Esse último ponto é bastante perceptível. Aparentemente, a população não identifica no poder público capacidade para cumprir aquilo que se propõe. Ou seja, a Justiça não é reconhecida como justa, a Polícia não consegue ser respeitada, etc. Por isso, as pessoas buscam no mercado uma resposta que não recebem do Estado. Dentro do raciocínio capitalista liberal, a Sociedade (ou o mercado), ao ver que não existiam respostas estatais, criaram, com seu dinamismo, uma forma de oferecer esse serviço e lucrar com essa demanda. Porém, esse movimento, embora bem embasado, esconde a tendência de isolamento na sociedade.

Uma pergunta: quais e quantos espaços públicos de convivência existem hoje em Natal? Além da praia, que ainda é um local onde pessoas de diferentes estratos sociais freqüentam e convivem (sem contar com as faixas praticamente privativas do litoral potiguar), não existem outros espaços de convivência. O que há é uma fragmentação: cada classe social freqüenta apenas o seu espaço devidamente legitimado. Os shoppings, por exemplo, são espaços de convivência de determinadas classes sociais. “As classes menos abastadas foram expulsas desses locais de forma natural. Não é preciso ter uma cerca elétrica na frente de um shopping para ficar claro que um pobre ou miserável não tem permissão para estar naquele ambiente. Ao mesmo tempo, essas pessoas encontram espaços alternativos de convivência, muitas vezes espaços perversos. É o caso dos paredões de som, que incomodam a vizinhança, ou os bares de periferia, em canteiros e áreas públicas. A Prefeitura tenta coibir, mas não há como, porque aquele espaço foi o encontrado por aquela população para conviver”, explica. Por esse ponto de vista, há dificuldades claras de relacionamento com a diferença.

A proibição sutil de que Edmílson Lopes fala não difere em nada da que citou o arquiteto Luciano Barros. “Harmonizar o ambiente” é suavizar o impacto da proibição, expressar de forma menos agressiva quem pode e quem não pode freqüentar determinado ambiente. Seguindo a avaliação, o que poderia ser uma medida de prevenção, acaba acirrando ainda mais os ânimos. “Essa proibição sutil acaba reprimindo ainda mais a violência. Quando a violência eclode vem de uma forma ainda mais intensa”, encerra Edmílson Lopes.

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