A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA
Com o título da manchete de "Meninas más" estampado na capa, o jornal Diário de Natal (20-05-2010) publica uma matéria sobre a violência juvenil nas escolas públicas estaduais, no caso em questão, a violências cometidas por meninas, sim as meninas também brigam nas ruas. Na seqüência, o jornal publica mais dois artigos sobre a violência juvenil. Mas isso é novidade?
Não é novidade para ninguém, ver nos jornais de todas as mídias (televisão, impressos, rádio ou internet) artigos sobre a violência entre jovens estudantes de escolas públicas estaduais do Rio Grande do Norte (RN). É polícia, a pé, a cavalo, com cães, policiais do choque, da rocam e mesmo do bope, sem contar com a cena cinematográfica do helicóptero sobrevoando a praça cívica, que poderia se chamar de praça de guerra, pois é lá onde ocorrem a maioria dos confrontos.
O fato tomou tal proporção que mete medo não só nos nas pessoas que passam perto da confusão, pois são disparados rojões, são arremessadas pedras para todo lado, inclusive em ônibus coletivos, ferindo aleatoriamente pessoas envolvidas ou não nessas rixas.
Mas afinal, o que está acontecendo que desencadeia tanta violência? Quem são esses jovens? Quais os motivos? Quais explicações? E mais importante ainda, o que de fato as autoridades estão fazendo para solucionar o problema? Tais questões são de fundamental importância para a reflexão sobre o assunto, pois a violência não é de hoje, não para de crescer e ainda atrapalha o funcionamento das escolas públicas e do RN.
A primeira impressão é que a violência ocorre por qualquer motivo, apesar de se comentar que o maior motivo seria a rivalidade entre as torcidas de futebol, hoje as denomidas de gangues(não se usa mais o termo “torcidas”), por mais banal que pareça o(s) motivo(s) de tanta violência, ela não é exclusividade dos meninos, pois as meninas também espancam. Esses jovens são estudantes, filhos de trabalhadores, e em sua grande maioria (quase exclusivamente) de escolas públicas, não se vêem alunos de escolas particulares de classe média alta. As "explicações" são as mais diversas possíveis, porém, nenhuma delas resultou em ações que resolvessem o problema até agora. Não se sabe de nenhuma ação efetiva para se resolver o caso, as autoridades "competentes" não tem nenhum plano, projeto ou similar, a única coisa é repressão, sim, são deslocados para a praça cívica, contingentes cada vez maiores de policiais e diversos aparatos, tais como cães, cavalos e até helicóptero, mas a repressão é passageira e nunca chega nem perto da raiz do problema. A única coisa que acontece é tirar policiais de outras localidades – onde poderiam estar inibindo o crime – deslocando os policiais para o centro da cidade para tentar conter o(s) tumulto(s).
Será que, governo municipal e estadual (e todos os secretários) tem algum plano? Será que existe algum estudo ou trabalho de inteligência para descobrir o que faz um número tão grande de jovens aderirem à violência? Ou será que estão todos presos a rótulos e especulações do senso comum?
Qual influência do sucateamento das escolas públicas, as escolas não são atrativas, salas quentes (algumas escaldantes), sem professores efetivos do quadro ou quando tem (estes fazem greves todos os anos por salários mais justos) ou são os estagiários (nem sempre formados), a maior parte das escolas não tem quadras de esportes (as que existem são geralmente sucateadas). Qual a perspectiva de escolas sucateadas oferecerem um futuro num mundo tão competitivo? Como os jovens adolescentes vêem essa falta de perspectiva de futuro?
A violência na escola, ou mesmo de seus alunos nas ruas e praças da cidade é um reflexo do abandono das autoridades em relação aos bairros populares, às escolas públicas, as quadras de esportes de bairro e mesmo de uma sociedade que a cada dia se torna mais violenta, onde os traficantes e o crack "adotam" diariamente um exército de futuros viciados.
A solução é a penas expulsar ( ou excluir) das escolas os alunos suspeitos e mandar a polícia dar "baculejos"? Para onde vão esses jovens? Se resumido a essas ações, o que vai restar para os jovens expulsos das escolas e sem perspectivas? Mais violência? Drogas? A exclusão vai diminuir a violência?
Tais reflexões devem ser feitas pela sociedade, assim como também a cobrança junto às autoridades (Ministério Público, Prefeita, Governador, Secretários, Vereadores, Deputados e Senadores), muitos deles estão em seus cargos há vários anos, mas até agora nada fizeram sobre o assunto, em período de eleição vão aparecer na televisão todos os dias dizendo que vão fazer “isso e aquilo”, só não entendo o motivo deles – essas autoridades (in)competentes - não terem feito antes tais políticas, projetos, leis e obras, pois já estão no poder a tanto tempo e nada fizeram pelo povo, que os elegeram como seus representante.
Augusto César
Leiam a seguir os artigos públicados pelo jornal:Capa do Diário de Natal on line do dia 20 de maio de 2010(clique aqui para entrar no site do Diário de Natal)
Cidades
Edição de quinta-feira, 20 de maio de 2010
Meninas violentas
Frequência cada vez maior de brigas entre alunas preocupa escolas de Natal
Francisco Francerle // franciscofrancerle.rn@dabr
A violência nas escolas do Rio Grande do Norte não está mais restrita aos alunos do sexo masculino. È cada vez mais comum que meninas se envolvam em brigas. Aquele jeito ameno, meigo e passivo já está meio fora de moda e em muitas escolas públicas de Natal elas copiam o comportamento agressivo que até pouco tempo era exclusivo dos homens.
O aumento dos casos de brigas entre meninas em escolas de Natal começam engrossar os relatórios nas fichas de registro dos alunos e a preocupar professores, diretores, psicólogos e até os Conselhos Tutelares que já acompanham vários casos, muitos dos quais a escola nem fica sabendo por ter acontecido fora do estabelecimento. Os motivos são os mais fúteis, ora ciúmes, ora briga de poder para mostrar quem é mais forte na turma, independente da faixa etária.
Recentemente, uma pré-adolescente de 12 anos, agrediu com pancadas, arranhões de unha no rosto e ainda ameaçou furar com um canivete uma outra adolescente de 13 anos, colegade turma da Escola Estadual Luiz Maranhão, no bairro de Cidade Nova, Zona Oeste de Natal. O motivo teria sido apenas um desentendimento que se resolveria com uma boa conversa. As alunas foram punidas com suspensão pela direção da escola e, dias depois, a menina agressora foi expulsa do estabelecimento por reincidência no comportamento agressivo. O caso está sendo acompanhado pelo Conselho Tutelar da Zona Oeste da cidade que encaminhou a menina agressora para atendimento psicológico numa unidade municipal de saúde.
A garota já passou antes pelo Conselho Tutelar por problemas de convivência familiar. Filha de pais separados, ela morava com a mãe que, devido o comportamento arredio, desistiu de sua guarda. A pré-adolescente foi morar com o pai, um carroceiro de 42 anos, que reconhece o comportamento agressivo dela. Segundo o conselheiro tutelar Erinelson Morais será feito um estudo de caso, com relatório social da família e da adolescente e, em seguida, pedirá sua reintegração na mesma escola.
Disputa por namorado acabou no hospital
Cidades
Edição de quinta-feira, 20 de maio de 2010
A Escola Estadual do Atheneu Norte Riograndense, no bairro de Petrópolis, na Zona Leste, também passa pelo problema. Há três anos sofrendo com a participação de alunos nas brigas de torcidas organizadas, a prática de violência dos meninos está se difundindo entre as meninas. A situação é facilmente visível nos conflitos que têm a Praça Pedro Velho como palco.
No início deste ano, uma jovem de 16 anos denunciou uma agressão sofrida dentro do Atheneu. A garota sofreu um soco no nariz, desferido por uma colega também de 16 anos e precisou ir para o atendimento de urgência no Hospital Walfredo Gurgel. O motivo foi banal: inveja e ciúmes de um ex-namorado. Após o atendimento médico, os pais registraram o Boletim de Ocorrência na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). A garota agressora foi suspensa e, em seguida, transferida para uma outra escola.
Um outro caso de agressão aconteceu na escola Estadual Winston Churchill. Lá, este ano, uma aluna agrediu verbalmente uma colega por ciúmes. No dia seguinte, o irmão da garota, que estuda na mesma escola, foi tomar satisfação com a agressora e foi surpreendido pela reação do namorado chegando a trocar agressões físicas nas salas de aula.
Banalidades
Segundo relatou uma estudante de uma escola de ensino fundamental de Natal, as garotas brigam por banalidades e saem no tapa por qualquer provocação. "Se me provocar eu sapeco-lhe a mão, pode ser filha do Papa, não levo desaforo pra casa e ainda organizo uma turminha pra pegar lá fora, somente gente fina de torcida organizada", disse ela.
Fonte: http://www.diariodenatal.com.br/2010/05/20/cidades1_1.php
Diretorias Adotam Prevenção
Cidades
Edição de quinta-feira, 20 de maio de 2010
Para coibir essas agressões, as Escolas Estaduais Winston Churchill e Atheneu já desenvolveram uma ficha de acompanhamento do aluno, onde são registrados todos os relatos de agressões. No Atheneu, segundo a diretora Marcelle de Lucena Maranhão, a ficha de registro consta o relato do fato, a providência tomada pela escola, bem como a intervenção feita junto aos pais que são chamados a assinar um documento de conhecimento do problema. "Com duas assinaturas na ficha, dependendo da gravidade do caso, o aluno pode ser transferido", esclareceu a diretora. Nas fichas são relatados casos de brigas, desrespeito ao professor e outras anormalidades.
Para a psicóloga Katiuce Angélica dos Santos Gurgel Pinheiro, as agressões entre meninas acontecem, na maioria das vezes, para impor respeito através do medo. Os adolescentes têm necessidade de afirmação, por isso eles agem assim tanto para demarcar lugar quanto para demonstrar poder. O problema é que os casos de violência que eles assimilam da própria sociedade acabam influenciando no comportamento em sala de aula. Apesar dos principais motivos de agressão entre meninas sejam a inveja, ciúmes e traição, a inversão de valores culturais e a falta de limites impostos pelos pais e educadores, bem como o exemplo da família que funciona como um espelho, contribuem para o problema.
As animosidades entre alunas podem ser resolvidas com simples ações. É o que defende a psicóloga, apostando em ações preventivas. Para ela, funcionam bem as terapias de grupo e ações do programa Mais Educação, do governo federal, que possibilita uma educação em um horário extra-escolar, tomando todo o tempo da aluna. Ela também enfatiza as palestras do Proed (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência da Polícia Militar), tendo em vista que trabalham também no combate à violência. Tudo isso, ao lado de disciplina e punição adequada, quando for o caso, e sempre acompanhada pelo Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente.
Quadro preocupante
Divulgado no mês passado, estudo da Unesco mostra que 86 mil alunas brasileiras já agrediram fisicamente alguém no colégio. Questionadas se haviam batido em algum colega de Escola no último ano, 10% das meninas disseram que sim contra 24% dos meninos.
Fonte: http://www.diariodenatal.com.br/2010/05/20/cidades1_2.php
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